Por Aaron Domingues Gonçalves da Silva
Você já ouviu falar de rios voadores?
Então fica por aí e saiba mais sobre este fenômeno que a pouco tempo é conhecido mas é de fundamental importância para agricultura e toda a vida do nosso país e do mundo.
Os rios voadores são como “cursos d’água atmosféricos” formados por grandes massas de ar que carregam volumes gigantescos de vapor de água. Estas correntes de ar passam diariamente sobre nossas cabeças, carregando umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Essa massa de ar, quando se depara com as frentes frias árticas vindas do sul, ou qualquer outra massa de ar de menor temperatura, transforma-se em chuva. E é justamente esta ação de transporte de quantidades exorbitantes de vapor de água que recebe o nome de rios voadores.
Segundo Antônio Nobre, pesquisador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e um dos teóricos do fenômenos dos rios voadores: a floresta amazônica funciona como uma grande bomba d’água. Fazendo com que a umidade evaporada pelo oceano Atlântico e carregada pelos ventos alísios sejam trazidas para dentro do continente.
Ao seguir terra adentro, a umidade cai como chuva sobre toda a floresta. Por sua vez, a floresta pela ação da evapotranspiração das árvores sob o solo tropical, devolve a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor de água. Dessa forma, o ar é sempre recarregado com mais umidade, que continua sendo transportada rumo ao oeste para cair novamente como chuva mais adiante.
Como esta dinâmica afeta o clima da América Latina e de várias partes do planeta?
Seguindo à dentro do continente, os rios voadores carregados de umidade proveniente do oceano e da floresta, encontram-se com a barreira natural formada pela Cordilheira dos Andes, da qual precipita-se parcialmente e formam as cabeceiras dos rios amazônicos. O vapor excedente fica impedido de seguir rumo à oeste à dentro do continente pelos imensos paredões de mais de 4.000 metros de altura da Cordilheira dos Andes. Então essa gigantesca massa de vapor de água faz a curva e parte em direção sul, rumo às regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e aos países vizinhos.
O regime de chuva e o clima do Brasil se deve muito a um acidente geográfico localizado fora do país! A chuva é de fundamental importância para nossa vida, nosso bem-estar e para a economia do país. Ela irriga as lavouras, enche os rios terrestres e as represas que fornecem nossa energia.
E qual a importância deste fenômeno natural para o Brasil e para o mundo?
Segundo os pesquisadores do INPA, a quantidade de vapor de água evaporada pelas árvores da floresta amazônica pode ter a mesma ordem de grandeza, ou mais, que a vazão do rio Amazonas (200.000 m3/s), tudo isso graças aos serviços prestados da floresta.
Segundo pesquisas desenvolvidas também pelo INPA, uma árvore com copa de 10 metros de diâmetro é capaz de bombear para a atmosfera mais de 300 litros de vapor de água, em um único dia! Uma árvore maior, com copa de 20 metros de diâmetro, por exemplo, pode evapotranspirar bem mais de 1.000 litros por dia. Estima-se que haja 600 bilhões de árvores na Amazônia: imagine então quanta água a floresta toda está bombeando a cada 24 horas!
Estudos apontam que a substituição das florestas por agricultura ou pastos ao longo dos anos tem se agravado cada vez mais a falta de chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do país, das quais são as principais produtoras de commodities e insumos agrícolas do país.
Isso mostra que ao avançar cada vez mais por dentro da floresta, o agronegócio pode dar um tiro no próprio pé com a eventual perda de chuva, das quais são imprescindíveis para as suas plantações.
O Brasil é reconhecido mundialmente por sua abundância em recursos hídricos. Porém, com as mudanças climáticas que ameaçam alterar regimes de chuva em escala mundial, é hora de analisarmos melhor os serviços ambientais prestados pela floresta amazônica antes que seja tarde demais.
Sugestão: Para entender melhor sobre os rios voadores e o caminho percorrido pelas massas de vapor de água, clique aqui.
Referências Bibliográficas:
RENATA TEIXEIRA DA SILVA, Lilian; GABRIELLY SILVA BARBOSA, Bárbara; DUARTE COUTINHO, Cristiana. RIOS VOADORES: COMO A DINÂMICA NATURAL DO FENÔMENO PODE SER AFETADA PELO DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL NA FLORESTA AMAZÔNICA. Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, [S. l.], p. 1-27, 15 jun. 2019. Disponível em: http://www.editora.ufc.br/images/imagens/pdf/geografia-fisica-e-as-mudancas-globais/1119.pdf. Acesso em: 6 jul. 2021.
RIOS voadores: O papel da floresta Amazônica no clima brasileiro. Repositório Institucional IFSC, [S. l.], p. 1-153, 30 jun. 2005. Disponível em: http://repositorio.ifsc.usp.br/handle/RIIFSC/4330. Acesso em: 6 jul. 2021.
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